Senado Brasileiro aprova por unanimidade estabelecimento de uma data de vergonha: Dia de Amizade Brasil – Israel. E agora?

Repúdio:
Por: Movimento Caminho Palestino Revolucionário Alternativo “Masar Badil”, Rede Samidoun de Solidariedade aos Prisioneiros Palestinos e Frente em Defesa do Povo Palestino – São Paulo

Desenterrando um projeto de lei de 2013, o Senado Brasileiro aprovou o estabelecimento do dia 12 de Abril como Dia da Amizade Brasil-Israel, oficializando uma data para homenagear as relações com uma entidade colonial e racista, fundada na morte, no deslocamento forçado e na ocupação. A escolha da data, dia da criação da primeira missão diplomática Brasileira para Israel, vai na contramão de diversos países da América Latina (Bolívia, Belize, Colômbia, Chile, Cuba) que estão corretamente rompendo as relações com a ocupação colonial. Essa decisão vergonhosa representa um alinhamento com o carrasco, contra a vítima, com o projeto sionista que pratica uma das formas mais brutais de genocídio e em oposição frontal a todos os valores de liberdade e justiça defendidos pelos povos da América Latina.

Que os partidos de direita, com profundos entrelaçamentos com o sionismo no país através das igrejas evangélicas e de parcerias econômicas, não teriam náuseas em aprovar o projeto de lei em pleno genocídio em Gaza, já era esperado. Mas, para a surpresa de muitos do campo de solidariedade à Palestina no país, a bancada do Partido dos Trabalhadores (PT), tradicional força de esquerda no cenário político nacional, não apresentou sequer uma dissidência dentre seus 11 senadores. Em entrevista ao Opera Mundi, o líder dos senadores do PT, Sr. Rogério Carvalho, disse que a aprovação seria justamente um “gesto diplomático” que, na sua ótica, não entraria em conflito com a “defesa intransigente de um estado palestino soberano”.

Repudiamos com as mais fortes palavras essa glorificação infame das relações entre Brasil-Israel. Declaramos nosso repúdio, não só como internacionalistas, mas como cidadãos brasileiros. Diante de tantas outras demandas governamentais nacionais, em meio a um genocídio que já matou mais de 54 mil palestinos (confirmados), da total destruição das condições de reprodução da vida em Gaza e dos 3577 reféns palestinos detidos em prisão administrativa, sem julgamento, o Senado decidiu que o mais importante era legislar sobre a criação de um dia da Amizade Brasil-Israel. Celebrar os laços com Israel, em especial nesse momento, é contribuir com a normalização dessa ocupação colonial e com suas ações genocidas nos últimos 20 meses. Seria como decretar um Dia da Amizade Brasil-Alemanha durante a Revolta do Gueto de Varsóvia de 1943, em pleno Holocausto judeu.

Expressamos nossa mais profunda injúria frente a essa decisão que alega “reconhece[r] a importância e proximidade de duas nações irmãs”, como foi pontuado pelo autor do projeto de lei, Sr. Carlos Vianna. O Senado considerou como importantes os cidadãos brasileiros mortos por Israel (a exemplo de Ali Kamal Abdallah e Mirna Raef Nasser) nos últimos 20 meses, ao tomar essa decisão? Onde está o parlamento brasileiro para pedir o retorno do corpo do brasileiro Walid Ahmed, de apenas 17 anos, morto no campo de concentração de Megiddo?

Muitos no movimento de solidariedade à Palestina demonstraram surpresa com o recente posicionamento de setores do governo brasileiro — mais do que seria justificável, diante de um histórico marcado pela defesa da solução de dois Estados, sempre sem menção ao direito de retorno das e dos palestinos. Se essa postura já revelava alinhamento com os marcos impostos pelas potências ocidentais, a aprovação de um projeto que estreita laços com a ocupação israelense e a recusa explícita em romper relações com um Estado colonial apenas confirmam que essa ruptura nunca foi seriamente considerada.

Seguimos firmes em nossa campanha: o governo brasileiro deve romper imediatamente todas as relações com a ocupação israelense.

Ademais, é urgente compreender essas simbólicas declarações de apoio ao sionismo no Brasil – somando-se à premiação do ex-soldado israelense André Lajst pela Câmara Municipal de São Paulo e à visita do prefeito de Belo Horizonte a Israel – dentro de uma conjuntura maior. À medida que o sionismo perde a opinião pública nos Estados Unidos e na Europa, busca-se influenciar e doutrinar as populações da periferia a apoiar as ações do Estado colonial, do exército de ocupação, e vilanizar a legítima luta do povo palestino por sua auto-determinação.

Saudamos todos os brasileiros, das mais diversas categorias profissionais, orientações políticas e pertencimentos culturais, que expressam sua solidariedade ativa e militante com a luta do povo palestino por libertação e sua justa e heroica resistência organizada. Nosso firme repúdio àqueles que normalizam, se acovardam ou se omitem perante o caráter colonial de Israel e seus atos genocidas, e registramos para a posteridade de qual lado eles se posicionaram nesse confronto decisivo para a humanidade.

Às organizações e entidades que desejarem assinar esta nota, orientamos que o façam pelo google form: https://forms.gle/ZiSieDh3t3y1pHSP8


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